quarta-feira, 14 de julho de 2010

Carta de Raimundo

Este é o ultimato.
Todos esses dizeres, embora fugazes fazem-me entender que hoje, hoje não mais voltarei.
Não importo-me se soar clichê, se não aprecia uma fuga desvairada.
Me sinto vago, me sinto sujo.
Maria, nossas flores murcharam, nossa mula morreu, o feijão acabou, nosso sonho acabou.
Maria, deixo-te meu relógio e um exemplar de Odisseia por qual nunca se interessou.
Nosso desfeixe é mais triste que meu desamor.
Sabe que não volto, que é definitivo.
Voltarei para Santa Teresa, cuidarei do comércio de meu pai, e novos amores virão!
Este não é o fim, Maria.
Volte para sua mãe, volte para sua terra, onde há de achar sua sina, seu aconchego.
Junto à mim não encontrará disso.
Eu disse para padre José orar por nós, não falte nas missas, no natal compre um vestido e não tome muito champagne.
Continue a praticar piano, não chore quando não achar meus braços, não confie em todas as pessoas.
Ah! Maria... Te conheço muito, te sei tanto...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Pule nas poças sem usar botas

Um lampejo da felicidade
Uma faísca de efeito
Um vislumbre de criação

Você se lembra do som da chuva?
Você já deixou seu guarda-chuva de lado?
Você sabe o que é o vento nas frestas do cabelo?
Você sabe o que é...
Sentir?
Se lembra como é pensar por conta própria?
Recorda de como desenhar uma flor?
Você se lembra das estrelas de ontem à noite?
Você se lembra do som da chuva?

Corra antes que seus joelhos não possam mais te aguentar
Conte sua história
Irrompa o envoltório
Pule nas poças sem usar botas.

Sweet begônia

Através das luzes dos carros que penetram nas gotas de chuva coladas na vidraça vejo meu amor me escapar pelas pontas dos dedos, minhas unhas recém-pintadas. Não amor físico, o sentimento. Ele me vai tão facilmente e nem gosto disso. Um dia longo. Noite maior ainda. A decepção. Os pontos finais fazem-me entender que minhas vírgulas já foram o bastante, não deveria ter insistido nelas tanto assim. Espero pelas lágrimas, elas não vem. Espero por doença, também não. Interior corroído. Uma música animada. Devagarinho vou, conto meus poucos trocados, ofereço-me uma taça de vinho, não quero. Quero assim estática apanhar minhas chances do varal, lavar as minhas roupas, vestir o meu casaco, ler o jornal, minhas notícias, meu travesseiro, meu chá de erva doce...