segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Voltou-se ao Taj Mahal

Estava buindo seus pensamentos, eu poderia dizer inúmeras palavras no gerúndio para expo-lo, mas estava apenas buindo. Sentado com ar das ultimas gotas de uma chuva de verão, com o tom dos ultimos acordes de um pianista bebado, com a sutilidade de qualquer fingimento fajuto, buia.
Contemplou os envolventes suspiros do vento que cantavam em harmonia as dores do mundo, assim simples e contingente, passou-se a andar, andar somente não bastava, passou-se a correr, também não era, então deitou. Bem espalhado. Esqueceu-se que buia, procurou a história mais linda de amor, procurou os últimos vestígios do saber, voltou-se ao Taj Mahal que esteve em sua infância e por lá ficou o máximo que pode, tanto que lhe ocasionou certa vertigem, e girava por todos os fatos antecedentes. Algumas lágrimas por si saltavam, alguns cabelos por si caíam, e descobriu então que velho já estava. Então deitou-se por outra vez, agora não mais espalhado, encolhido, buindo-se. E por lá ficou...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Assim eu espero

Sinto-me empacotada em Seu contínuo amor. As Suas palavras suplicantes para ir de encontro aos Seus olhos soam como auto-falantes em uma chuva torrencial.
Pai, eu sinto cortar-me ao meio quando reconheço que minha cura não foi sarada, apenas pintada por meus próprios dedos.
E hoje não peço para que me ajude sair de lamas tão sordidas e superfluas, pois nelas não estou mais.
Hoje peço-Te que me de o cintilante sonho de estar por entre Suas asas, entre Seu plano de redenção. Peço-te que eu possa me entregar.
Pai, como eu posso estar em Sua presença com pés tão sujos? Como poderei processeguir com mágoas? Suplico-Te que conseda-me a misericórdia de estar em oração.
O sorriso me vem em pensar em um dia que o Senhor poderá me levar para ver os lírios em um céu tão denso e macio, interminável. O som dos trigos enfeixados me mostraram que sou Sua filha, e meu louvor não há de acabar.
Enquanto me existir folego, sim, eu prometo que estarei entre Seu olhar.
Pertenço a Ti, minha existencia reside em Sua casa, meus passos em Seus pés.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Cordas Oxidadas

Minhas mãos cheiravam às cordas oxidadas, não sei porque aquilo me fazia tão bem. Os acordes me engoliam, palavras tão redundantes. Mas eu tocava aquela bossa, que me lembrava daqueles dias, daquelas luzes.
Que nem era uma bossa nem cordas oxidadas, mas era a guitarra de você.
Mas nem os dias lembrados vão passar por cima dessas cordas que me consumiram, essas notas agudas, as flores pela cortina esvuassada.
Eu que simplesmente me completava por reconhecer-me entre todos os panos pendurados, me via!
Os vagalumes que sambavam diante da festa traziam à tona o mar de laços de outrora, e todos diziam que era na verdade o rock n' roll o feitor de tudo isso.
Ah! Aquelas cordas que me ajudaram a trazer a alma para a canção, que agora não passam de puro pó...
Todos diziam que estava tudo bem, caindo no sofá, so far away...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Olá, Edward! (bloody hell, it's freezing outside)

Novamente venho-te. Nada comigo trago, quiçá meu chapéu ou tantos papéis rabiscados.
Não pense que a deixei, apenas procurava pelo oceano de perguntas em seus inúmeros cílios, Carolina.
Eu as encontrei em todos os lugares, e agora você as sabe, pois tu és o espelho de mim próprio!
Menina, a casa de chás ainda vive, o porco do Sr. Magalumbre infortunamente posso dizer o mesmo, Madaleine não a vejo, Julia nem a quero mais, Noah nem atrevo-me por palavras, Jeorge sobrevive jogando com outros velhotes.
Oh bloody hell, não perde nada por aqui. Eu te deixei ir...
Mas vai voltar, tudo que sonha guardo na minha escrivaninha, até mesmo aquelas porcarias de discos ruins que você tanto gosta.
Não estou mais para te fazer dormir nas noites de verão, mas sonho e observo-te sempre, tudo que queria que fosse, sim, você é!
Não venha me dizer que tudo foi por causa de mim porque vá, eu sou apenas você, meu bem.
Não deixe-me empoeirado, anceio tanto por você, menina.
O meu conforto para você é o azul, você sabe do que digo e também sabe que meus sapatos são novos.
E caminho, caminho, descanço. Grito, choro, balanço, amo! Mas caminho...
Ora, e com você é a mesma coisa!

Edward J. Fudwarms.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Rasgo

Sucinto-me.
Agora me cabem tão poucas palavras que nem escreve-las vou.
Sim, é eminente que isso me aconteceu pois tudo voltou-me para as pontas dos dedos, ainda que momentaneamente, pulam-me fórmulas para tudo que havia dito.
Sinto-me como baionetas perfurando todas as letras de outrora.
E como um sucedaneo eficaz afirmo meu pequeno paragráfo com um chiste!
Ah, a sociedade é tão bela!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Carta de Raimundo

Este é o ultimato.
Todos esses dizeres, embora fugazes fazem-me entender que hoje, hoje não mais voltarei.
Não importo-me se soar clichê, se não aprecia uma fuga desvairada.
Me sinto vago, me sinto sujo.
Maria, nossas flores murcharam, nossa mula morreu, o feijão acabou, nosso sonho acabou.
Maria, deixo-te meu relógio e um exemplar de Odisseia por qual nunca se interessou.
Nosso desfeixe é mais triste que meu desamor.
Sabe que não volto, que é definitivo.
Voltarei para Santa Teresa, cuidarei do comércio de meu pai, e novos amores virão!
Este não é o fim, Maria.
Volte para sua mãe, volte para sua terra, onde há de achar sua sina, seu aconchego.
Junto à mim não encontrará disso.
Eu disse para padre José orar por nós, não falte nas missas, no natal compre um vestido e não tome muito champagne.
Continue a praticar piano, não chore quando não achar meus braços, não confie em todas as pessoas.
Ah! Maria... Te conheço muito, te sei tanto...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Pule nas poças sem usar botas

Um lampejo da felicidade
Uma faísca de efeito
Um vislumbre de criação

Você se lembra do som da chuva?
Você já deixou seu guarda-chuva de lado?
Você sabe o que é o vento nas frestas do cabelo?
Você sabe o que é...
Sentir?
Se lembra como é pensar por conta própria?
Recorda de como desenhar uma flor?
Você se lembra das estrelas de ontem à noite?
Você se lembra do som da chuva?

Corra antes que seus joelhos não possam mais te aguentar
Conte sua história
Irrompa o envoltório
Pule nas poças sem usar botas.

Sweet begônia

Através das luzes dos carros que penetram nas gotas de chuva coladas na vidraça vejo meu amor me escapar pelas pontas dos dedos, minhas unhas recém-pintadas. Não amor físico, o sentimento. Ele me vai tão facilmente e nem gosto disso. Um dia longo. Noite maior ainda. A decepção. Os pontos finais fazem-me entender que minhas vírgulas já foram o bastante, não deveria ter insistido nelas tanto assim. Espero pelas lágrimas, elas não vem. Espero por doença, também não. Interior corroído. Uma música animada. Devagarinho vou, conto meus poucos trocados, ofereço-me uma taça de vinho, não quero. Quero assim estática apanhar minhas chances do varal, lavar as minhas roupas, vestir o meu casaco, ler o jornal, minhas notícias, meu travesseiro, meu chá de erva doce...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Gato Capuz

Um dia um gato apareceu em minha casa.
Mas era de noite. E moro em apartamento.
E não era um gato qualquer, era um gato preto em baixo da escada.
Apelidei-lhe de Capuz, pelo fato de que horas antes minha mãe havia o visto correndo deliberadamente sobre os degraus, e concluiu que por tal vulto que Capuz fizera nada menos era que um ladrão com um capuz preto.
Eu me ri. Por ser apenas inocente bixano que ora estava num canto em baixo da escada.
Ele olhava verde para mim, deconfiado. Minha mãe jogou-lhe água fria e e tive de ouvir sua ladainha que aparentava ser um "miau".
Capuz estava a flor da idade, deveria de ser o maior galanteador do bairro.
Dei-lhe comida, mas não comeu. Tentei aproximar-me mas mostrou-me as unhas e fui-me à cima da escada.
No dia seguinte quando eu saia pela manhã deparei com presentinhos nada agradáveis em toda parte, e frustrei-me com Capuz, mas não deixei de gosta-lo, ensinaria modos ao senhor felino.
Quando voltei para casa perguntei sobre Capuz, minha mãe disse que meteu Capuz à fora, que não passava de um fedorento!
Senti-me triste pois sabia que Capuz gostava de mim também...
O gato desapareceu da minha casa.
Capuz se fora.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Lista para o senhor do tempo

O que eu queria mesmo era um tempo. De tudo. Primeiramente de mim. Mas é como um hiato sem vogais. Não consigo mais olhar o espelho e me ver. É... Enlouquecedor. As minhas manias, choramingos, medos, meu quarto, da maneira como escrevo, meu rosto, meu gosto e meu jeito de andar. Eu não aguento mais. Me sinto um pouco de geléia espalhada em um pão grande demais. Me sinto fora, mas muito dentro pra sair. Me sinto um copo meio cheio e meio vazio. Será isso fugir da monotonia? Má che! Quero tempo disso também...
E claro, das pessoas. Essa gente efuziva que vai entrando na sua vida, metendo o nariz. Pessoas que não fazem nem esforço pra seguir um raciocínio digamos que... Abstrato. Não, não, não é essa a palavra... Pessoas amassadas na massa. Seus gloriosos projetos se vão com qualquer brisa que se passa...
E tempo das cidades, são todas iguais tirando algumas claras diferenças culturais. Tempo da televisão, da mídia, do computador, das previsões, das ações repentinas.
Quero tempo de você, tempo para o meu surrado coração.
Mas o que me incomoda que de todo esse tempo, um dia ele volta. Porque eu não sei me recompor se não for com um tapa - Ardido, de preferencia - na cara. E tempo pra que? Depois pode ser até pior...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Ér, tunts tunts

Ouvi ruidos, e pensei que fosse passos. Mas logo vi que era meu coração, inquieto, pulando...
Podia até ver seu contorno em minha pele.
E continuava com tanta facilidade e eu nem sabia porquê.
E minha respiração aumentava de acordo com o pensamento de que seria tal batimento.
Acho que de tempos pra cá, de tanto ele esperar, o que eu não sei, se desgastou e começou a sentir por ele próprio.
Mas depois à custo abri os olhos e nada havia, vacuo.
A não ser pela solidão, sentada ali em um canto, me observando, sugando minhas gargalhadas...