sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Céu das cinco

Cora tinha lá seus nove anos, cabelo de fogo com típicas sardas por seu corpo todo. Vestia um vestido batido verde dado por sua avó no natal retrasado e uma meia pelos joelhos de arco-íris. Estava ela nas pontas dos pés junto à porta da varanda olhando o céu das cinco horas, que devo lhe admitir, é um dos melhores. Eram três cores. Três camadas. A primeira, maior por sua vez, de um azul pálido, a segunda amarelada com um gracejo singular, como uma mãe com seu filho de dois anos. Terceiro é degrade, de início é laranja, depois marrom de escondidos com preto, azul, e não sei mais o que. Desconfio que seja a junção de todas as cores, e transforme naquela. Tão singela e enganosa. Triste e graciosa. Cora sentia o vento do breve inverno, apertava-se contra a fresta da porta, sentia seu velho amigo, e sorria. Imensa não era a felicidade, tão pouco engraçado era. Um pouco talvez. Apenas sorria. Sorria pelas cores que colecionava. Às vezes ela via o que ninguém vê. Por fim abriu a porta se deitou e olhava o céu que não podia se desviar à atenção por um segundo que se modificava, e as cores belas apanhava com seus pequenos dedos. O vento a saldava com uma velha cantiga, e acariciava os cabelos laranja-vermelho de Cora.

2 comentários:

  1. Lindo!Fascinante!O céu das cinco traz reminiscência.Legal Carol!

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  2. "Sorria pelas cores que colecionava"
    e quem nunca fez isso? e quem nunca eh aquela criança que coleciona cores? coleciona nuvens? enfim.. eu me pego fazendo coleção de minutos! 15º minuto da hora 13, 15º minuto da hora 14... eh uma delicia!
    bjs

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